21.10.06

PÉROLAS ENTRE PORCOS


WOLFMOTHER – Wolfmother (2005)

Não se pode negar. Por mais que seja evidente que há uma influência do rock clássico feito no fim de 60 e início de 70, a sensação déjà vu do primeiro disco homônimo do power-trio Wolfmother não é algo ruim ou confuso, como é costume acontecer com este tipo de empreitada. O prazer é nítido em ouvir músicas extremamente timbradas e estruturadas aos moldes da vanguarda roqueira daquela época. O Wolfmother conseguiu lançar em 2005 o álbum que a reunião do Black Sabbath original não foi capaz de reproduzir na segunda metade da década de 90. O hit Woman já pode ser eleita a Paranoid dos anos 2000.
E já que negar essas influências é algo impossível, dar nomes aos bois é mais do que óbvio e até necessário. Dimension abre a biscoito do trio australiano com riffs sabbathicos cortantes, mas a levada é puramente Grand Funk Railroad. Power-trios como o próprio GFR, o Cream e o Blue Cheer ficam evidentes em Pyramid e em Tales From The Forest Of Gnomes. A influência do pré-punk do baixo de Chris Ross se mistura com a linha melódica de guitarra e teclado em Apple Tree, além de ter um solo esquizofrênico. Enquanto White Unicorn alterna momentos pacíficos com explosões de lembrar Sabbath Bloody Sabbath, deixando o final apoteótico bem ao estilo do Led Zeppelin. E é a banda inglesa que também é lembrada nos dedilhados e do órgão de Where Eagles Have Been, além de Vagabond que fecha as edições não australianas do álbum. O timbre do vocal gritado do novato Andrew Stockdale assemelham-se ao nem-tão-novato Jack White. Outras bandas mais novas, mas também ligadas ao som setentista, dão as caras numa influência-originalmente-plágiada-dos-originais. As levadas de Kyuss e Soundgarden são recordadas pelo baterista Myles Heskett em Colossal e Mind’s Eye respectivamente.
O Wolfmother soube utilizar sutilmente os clichês progressistas sem soar chato ou enfadonho. E o melhor exemplo disto está em Joker and The Thief se apropria de introdução progressiva com o velho órgão Hammond fazendo cama para um riff de guitarra espacial. Withcraft lembra o Rush - quando ainda não era chato - aliado as flautas piscodélicas do Jethro Tull.
Love Train é possivelmente a melhor faixa do disco por diferenciar-se das demais, com percussão a la Sympathy for the Devil e um groove dançante.
Não há problema algum em ser nitidamente parecido com suas influências, desde que o som seja tão bom quanto o original. E neste caminho o Wolfmother passa com louvor, sem cair no saudosismo macambúzio. Agora é só esperar pelo próximo pacote de biscoitos do trio que já está no forno.

9.10.06

PELAS PAREDES DO QUARTO


















ROLLING STONES - Sticky Fingers (1971)


Tenho a sensação de que os acordes de Sticky Fingers, lançado em 1971, estão presos entre o cimento e os tijolos da parede do meu quarto, e que ao apertar do play eles começam a criar vida ressoando da parede fria para esquentar o meu quarto e as minhas veias.

Este disco marca uma nova fase na carreira dos Rolling Stones, sendo o primeiro álbum lançado pelo selo criado pelos membros da banda. Embora discos como Beggar’s Banquet (68) e Let it Bleed (69) já esboçassem a evolução criativa da banda, o que caracteriza o som dos hoje geriátricos roqueiros está presente por todo disco produzido “com afeto” por Jimmy Miller, como assegura na ficha técnica.


A capa criada por Andy Warhol, que viria originalmente com um zíper, já sugere o petardo sexy que é ouvir Brown Sugar abrindo os mais de 45 minutos deste deleite stoneano. A essência de rock básico nos riffs marcantes de Keith Richards se entrosa perfeitamente a batida certeira e elegante de Charlie Watts que se alia ao amadurecimento vocal de Mick Jagger para provocar libido extremo aos ouvidos.

Embora tenha substituído o guitarrista Brian Jones em 1969, Mick Taylor parece estar mais íntimo do resto da banda neste álbum, soltando inspiradíssimas melodias nos solos de Sway e Moonlight Mile, além do slide na releitura do clássico bluseiro You Gotta Move, características que o fizeram despontar nos Bluesbreakers de John Mayall antes de ser transformado em um stone.
A presença de vários clássicos e participações de conhecidos músicos acrescentam o chantilly na bolacha stoneana. A balada Wild Horses e a elucidativa Sister Morphine, com participação de Ry Cooder na guitarra e Jack Nitzche no piano, além da contemplativa I Got the Blues, com um excelente solo de órgão do recém falecido Billy Preston. Bitch traz um groove viril fortalecido pelos metais de Bob Keyes e Jim Price, enquanto a porção caipira da banda aparece em Dead Flowers.
Além de ser imprescindível na estante de qualquer amante do rock and roll, Sticky Fingers seria o primeiro de uma série de registros que marcariam a melhor fase da ‘maior banda de rock do mundo’, como ficara conhecida a banda a partir do início da década de setenta.

1.10.06

BEM-VINDO A COMPANHIA DE TOM PETTY




















TOM PETTY - HIGHWAY COMPANION (2006)

Tom Petty reaparece neste ano com mais um disco carregado de violões, em canções muitas vezes bucólicas e contemplativas, enquanto outras te fazem bater o pé ao seu ritmo.

Saving Grace abre Highway Companion dando uma amostra de como o blues pode ser modernizado sem perder sua essência. Os violões de Square One e Flirting With Time me passaram uma sensação de dèjá vu, pois parecer terem saído do disco Wildflowers (1994). Tom Petty traz uma característica recorrente nas suas composições : refrões que grudam na cabeça e fazem até os mais timidos balbuciarem suas palavras. Esses refrões aparecem em Big Weekend, Night Driver, na já citada Flirting With Time e com o passar de várias audições você está cantando outros refrões sem perceber.
Down South é uma viagem de ônibus rumo as plantações de algodão do delta do Mississippi, os raios solares se degladiando com nuvens carregadas no céu, mas que parecem esperar o momento certo pra desaguar.

Roy Orbison, ex-parceiro de Traveling Wilburys, deve ter inspirado Petty em fazer Damage by Love. Enquanto Jack carrega uma levada climatizante, além de uma guitarra a la J.J. Cale. Outro companheiro de Wilburys, Jeff Lynne, aparece na produção do disco – que é co-creditada a Tom Petty e o inseparável Heartbreaker Mike Campbell – o que serve para abrilhantar o disco que leva apenas a assinatura de Petty. Mas a porção do tempero Heartbreakers começa ganhar maior destaque a partir de Turn This Car Around. O piano em This Old Town deixa sua marca, sendo uma das melhores faixas do álbum. O timbre da guitarra solo de Ankle Deep é surreal. Para fechar o disco, Petty registra The Golden Rose, que poderia muito bem ser uma faixa de The Last DJ, de 2001, e um dos melhores álbuns de Tom Petty and the Heartbreakers.
Highway Companion talvez por ser mais introspectivo não será um dos mais marcantes da carreira de Tom Petty, terá seus hits que serão figurantes em uma próxima coletânea, mas é muito mais radiofônico do que o é que considerado música boa para as rádios.
Adquira sem pestanejar.