5.11.06

O MELHOR GUITARRISTA DESCONHECIDO DO GRANDE PÚBLICO (ou RORY GALLAGHER)


RORY GALLAGHERCalling Card (1976)

Dentre os meus guitarristas preferidos e que alcançaram destaque mundial pelas suas particularidades – Jimi Hendrix pelo controle completo do instrumento; Jimmy Page pela utilização de timbres, camadas sonoras, arranjos e afinações num; Eric Clapton pelo seu poder de ser um bluseiro branco –, é o guitarrista irlandês Rory Gallagher, desconhecido do grande público, que corresponde ao amalgama que geraria se os três primeiros fossem liquefeitos.
A inventividade de Rory Gallagher ultrapassa os limites em Calling Card, lançado em 1976, é o seu oitavo lançamento solo e, o quinto com a formação que incluí Lou Martin ao piano, Rod de’Ath na bateria e Gerry McAvoy no baixo. Este álbum foi o canto do cisne para essa formação que mais se entrosou com Gallagher, potencializando o som do guitarrista.
Algumas mudanças no processo de composição de Calling Card diversificaram o rock bluseiro dos primeiros álbuns. Moonchild poderia figurar perfeitamente no repertório do Deep Purple. Não por acaso, o baixista da banda, Roger Glover, é o responsável pela produção do álbum. Sua participação se deve ao fato de que Gallagher, produtor de seus álbuns anteriores, buscava novos caminhos para expandir suas idéias baseadas na tradição folk-bluseira.
Essa busca fica evidente na faixa título, Calling Card, que abusa de uma levada jazz para deixar a guitarra conversar com o piano. Já Contry Mile carrega uma potencial surpresa. Embora haja no álbum canções com ascendência jazzística, é no ritmo boogie da canção citada que percebo como ela se encaixaria na voz de Billie Holiday, pois consigo recriar na minha mente a voz da diva do jazz em um arranjo da época em que Holiday estava na Verve. O mais engraçado é que a rouquidão de Rory Gallagher que fez essa sensação tomar forma. Além da surrealista impressão, a música se destaca também pelo excelente timbre único no solo do slide de Gallagher.
Apesar dessas inovações, ele também sobe aproveitar de suas influências tradicionais para criar composições como o single Edge In Blue, que chegou ao topo da parada americana com seu início suave, e até um pouco piegas, que se transforma numa bela levada country. Os dedilhados de I’ll Admit You Gone e Barley and Grape Rag retratam a maestria do guitarrista na utilização da técnica sem perder a sensibilidade.
O lado roqueiro do guitarrista não fica para trás neste álbum. Da abertura com Do You Read Me que já provoca arrepios na introdução guitarra e bateria. Enquanto Secret Agent, a faixa mais interessante do disco, revela um intrincado riff que serve como documento de que a guitarra ditou a revolução na música do século passado. Rory cria uma ótima melodia no solo da funkeada Jack-knife Beat, lembrando muito a mão-lenta de Eric Clapton. Calling Card ainda traz em sua versão digital mais duas bônus: os power-rocks Rue the Day e Public Enemy – esta apareceria no álbum Top Priority (1979), mas que fora gravada primeiramente em San Francisco com a formação deste álbum – não ficam aquém da seleção do original. Esse é para deixar no repete e degustá-lo por horas.

3 comentários:

Anônimo disse...

Quando ouvi não gostei. Como por muitas vezes quero flertar com a sonoridade blues e meus ouvidos não conseguem. Talvez este Gallaguer, seja algo para se ouvir depois que o som do senhor Clapton ganhar algum espaço na minha discoteca, caso isso não ocorra, ainda manterei minha opinião, ou seja, não apreciarei.

Ricardo Schott disse...

Bem legal a lembrança do Rory. Coincidentemente, ia sentar hj pra escrever um texto sobre o Wolfmother, que vc citou no post anterior.
Abç

Anônimo disse...

Aprendi muito