9.3.08

A NOVA PINTURA DOS CORVOS


Black Crowes – Warpaint (2008)

Após sete anos sem lançar material inédito, a Black Crowes pinta a cara e faz a (r)evolução musical do seu rock retrô. Assim como os Rolling Stones fizeram em 1970, ao criar o seu próprio selo para lançar a melhor safra de sua duradoura carreira, ou o Led Zeppelin, que também fez o mesmo, criando o selo Swan Song e colocando o álbum duplo Physical Graffiti na praça em 1975, os Crowes criaram o selo Silver Arrow, depois de 18 anos de estrada e apenas 6 álbuns de estúdio. Warpaint é um complexo de dez inéditas e mais uma interpretação pesada do blues God’s Got It, clássico do Reverendo Charlie Jackson, que remete ao mesmo poder de Back of My Hand, o blues raiz que os Stones compuseram para seu último álbum, A Bigger Bang, de 2005.

Warpaint traz também novos corvos para a batalha: além da produção de Paul Stacey, que havia substituído o guitarrista Marc Ford na turnê All Join Hands, mas que não se alistou no front de batalha para a nova turnê, temos o guitarrista Luther Dickinson, oriundo do North Mississippi Allstars, mais o tecladista Adam MacDougall.

Cheio de blues, folk e psicodelia, o álbum gravado em três semanas em Nova Iorque, tem personalidade forte, consistente e se distingue bem dos trabalhos anteriores, embora algumas canções possam se aproximar das viagens e do clima de 3 Snakes and 1 Charm, lançado 1996. São perceptíveis também as características que fizeram da banda uma referência concreta para o rock and roll feito nos anos 60 e 70, além da originalidade e, ao mesmo tempo, reverência que possam colocá-los ao lado dos grandes artistas do rock clássico. O álbum foi gravado ao vivo em julho do ano passado, com o mínimo de takes possíveis, não traz nenhuma canção que fora composta anteriormente, e evidencia a progressão musical natural da discografia da banda de Atlanta, principalmente, para quem a acompanha desde seu início, isso fica mais perceptível. O álbum não é necessariamente conceitual, mas as letras remetem aos valores da revolução contracultural que foi deixada para trás por aqueles que a protagonizaram, e seus filhos que não a seguiram.

Goodbye Daughters of Revolution é a flechada inicial, lançada em single no final de Janeiro e abrindo perfeitamente Warpaint. Embora eles estejam dando adeus os filhos da revolução, dão boas vindas aos órfãos da geração hippie com um som tipicamente Black Crowes, ou seja, tipicamente rock and roll clássico, e mantendo a chama viva.

Walk Believer Walk é outra com um peso preciso, calcada no blues, e como definiu Chris Robinson “cheia de veneno para incrédulos”.

Oh Josephine é soul, gospel, country e psicodelia misturados, batidos e temperados de maneira original para uma balada que Chris considera a melhor canção que ele Rich compuseram.

Evergreen tem o mesmo sabor das músicas do álbum solo de Rich Robison, Paper (2004), um solo excêntrico e arrepiante de Luther Dickinson, e foi gravada em só take.

Wee Who See The Deep, é pesada, funk e louca!!! A guitarra slide duela com os maneirismos vocais de Robinson. Jimmy Page e Robert Plant fizeram escola.

Locust Street traz os raios solares da Califórnia para o álbum, balada de beleza singela, com violões e mandolin contrapondo ao clima pesado da letra, em que Chris Robinson tem uma visão Bob Dylan de seu país.

Movin’ Down The Line foi a primeira a ser gravada nas sessões do álbum. Traz várias mudanças rítmicas e climáticas, ‘mas está tudo certo, irmãs e irmãos’. Chris está arrebentando na gaita e um primor nos vocais.

Wounded Bird é uma das melhores faixas do álbum, rock direto, refrão viajante, contagiante e básico. Apenas libere sua mente e viaje.

There’s Gold In Them Hills é outra balada em que Chris Robinson avalia a vida de artista, sua beleza artística e sua prostituição mercadológica ao efeito do tempo de sua própria carreira. O trabalho do novo tecladista ganha destaque nessa faixa.

Whoa Mule é a música mais otimista do álbum e foi escolhida para fechar o ritual de guerra do Black Crowes em Warpaint. Ritmos apaches, misturados com o folk europeu, canto indígena americano encontrando as raízes indianas e celtas das terras mais antigas do mundo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Esse cd novo do Crowes está ainda mais parecido com Faces!

Fulano Sicrano disse...

Giul, por favor, me indique na respectiva postagem no UQT qual o cd que você quer republicado, eu não localizei seu pedido. Abraço.